O setor de shopping centers foi um dos mais afetados durante a pandemia e, passados cinco anos, ainda não voltou a ter o mesmo número de visitantes registrado antes do estouro da crise sanitária, em 2019.
Esse é um indicativo de que as mudanças de comportamento entre os consumidores foram profundas, de acordo com avaliação de agentes de mercado que participaram de debate realizado na terça-feira (18) pela consultoria Brain Inteligência Estratégica sobre os efeitos da pandemia no mercado imobiliário.
O número mensal de visitantes aos shoppings desabou de 502 milhões em 2019 para 341 milhões em 2020. Nos anos seguintes, houve uma recuperação gradual, subindo para 397 milhões em 2021, 443 milhões em 2022, 462 milhões em 2023 e, finalmente, 476 milhões em 2024.
Portanto, o público permanece 5,2% menor do que nos níveis pré-pandemia, de acordo com dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) compilados pela Brain.
“É impressionante a mudança de hábito comportamental. O esperado era voltar ao normal, mas não aconteceu”, assinalou o presidente da Brain Inteligência Estratégica, Fábio Tadeu de Araújo. “No Brasil, as visitas aos shoppings não se recuperaram totalmente.”
Ele observou que o fluxo dos shoppings ainda não voltou ao que era mesmo com a inauguração de empreendimentos nesse período. Entre 2019 e 2024, a área total de shoppings no Brasil aumentou 8,3%, passando de 16,7 milhões de metros quadrados para 18,1 milhões de metros quadrados, o que significa mais de uma dezena de novos empreendimentos abertos.
“Se tem novos shoppings, as visitas deveriam ter crescido. Se isso não aconteceu, é porque as pessoas estão fazendo outras coisas no seu tempo de lazer. Possivelmente, ficando mais dentro de casa”, estimou.
Durante o debate, a Brain citou uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrando que, por lá, as famílias passavam, em média, 50 minutos do seu tempo de lazer dentro de casa até 2019. Com a chegada da pandemia, esse indicador passou a oscilar em torno dos 100 minutos e não recuou desde então.
A fonte da pesquisa é a American Time Use Survey. “O esperado era o hábito voltar ao normal, mas elas permaneceram mais tempo de lazer dentro de casa”, observou Araújo. No Brasil, não há uma pesquisa nos mesmos moldes, mas a percepção é similar.
O presidente da administradora Alqia, Frederico Youssef, admitiu que certos hábitos dos consumidores causaram redução no fluxo dos shopping centers, especialmente naqueles localizados em regiões de escritórios e naqueles que ficam em torno de estações de metrô.
“Teve mudança no perfil do consumidor. Com o home office, segunda e sexta viraram dias de ficar em casa”.