Como já era esperado, o Banco Central (BC) elevou os juros básicos do país em um ponto percentual, levando a taxa Selic a 14,25% ao ano.
O foco do mercado então estava mais voltado ao comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), que, surpreendendo parte dos investidores, já sinalizou — apesar de não dar a magnitude cravada — uma possível nova alta dos juros menor que um ponto na próxima reunião, em maio.
“O texto do comunicado foi considerado mais duro do que o esperado, principalmente pelo fato de o BC já sinalizar, de forma explícita, que deve promover um novo ajuste na taxa de juros na próxima reunião, ainda que de magnitude menor”, avaliou Thomas Gibertoni, sócio da Portofino Multi Family Office.
O Copom destacou que o cenário continua incerto, com uma pressão maior para a inflação continuar em alta, apesar de melhoras iniciais, mas incipientes.
Desse modo, para além do reajuste de menor magnitude em maio, a autoridade monetária deixou em aberto os passos seguintes, deixando-os a depender do curso dos dados econômicos.
“Diante da continuidade do cenário que está difícil para convergir a inflação, […] ele [o Copom] diz pra gente que a magnitude total do aperto monetário vai ser ditado pela firme convergência da inflação para a meta, que os próximos passos vão depender da atividade econômica. É um Copom que segue combatente, ativo”, pontuou Raphael Figueredo, estrategista de ações da XP Inc..
Porém, os juros já se encontram num patamar elevado e restritivo, de modo que a continuidade do aperto monetário deve enfraquecer a economia, alerta que já é levantado pelo BC em seu comunicado e compartilhado por analistas.
“A perspectiva é de que a Selic continue sua trajetória de alta ao longo de 2025, podendo ultrapassar os 16% ao ano. Esse cenário adiciona mais um entrave à atividade econômica, reduzindo o poder de consumo da população e impactando setores como varejo e serviços, que dependem diretamente do crédito para girar suas operações”, apontou Marcio Saito, CFO da Entrepay.
Sidney Lima, analista da Ouro Preto investimentos, também alerta que, apesar de reforçar o compromisso com a estabilidade de preços, a alta dos juros deve desacelerar o consumo e o crédito.
“[Isso impacta] a atividade econômica no curto prazo, [… e] o custo do crédito mais elevado pode desestimular investimentos produtivos, afetando o crescimento no longo prazo”, explica.
Em carta aberta, o Conselho Regional de Economia da 2ª Região – SP (Corecon-SP) avaliou como preocupante o contínuo aumento dos juros como o único mecanismo para controle da inflação, sem considerar as causas estruturais e conjunturais da alta dos preços, o que deve impactar a população.