Na segunda-feira, 16 de janeiro de 1984, dia do primeiro comício das Diretas Já em São Paulo, o Jornal do Brasil publicou em manchete principal que Tancredo Neves estava conversando com governadores do PDS, partido do regime militar, com o objetivo de forjar uma aliança entre PMDB e PDS para as eleições indiretas.
Era um duplo e letal anátema: para o regime militar, então encarnado pelo governo João Figueiredo, por sentir o fel da traição fermentar em suas entranhas; para as oposições, que recém-iniciavam uma campanha que emocionaria o país na busca das eleições diretas. O texto era de minha autoria.
Naquela noite, quando Tancredo chegou ao palanque apinhado das Diretas Já no Anhangabaú, dezenas de jornalistas o fuzilaram com uma pergunta uníssona:
“É verdade?”
Ele respondeu numa retranca agressiva:
“Isso é coisa de um jornalista irresponsável, leviano e mentiroso!”
Eu não podia revelar minhas fontes, dois governadores do Nordeste, que me contaram sobre as conversas com Tancredo mediante compromisso estrito de off-the-record.